Doenças Hepáticas Responsáveis por 3% das Mortes no Brasil Custam R$ 300 Milhões por Ano

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) conduziram um estudo inédito utilizando dados do Ministério da Saúde, secretarias estaduais e prefeituras, revelando que o governo brasileiro investe anualmente R$ 300 milhões apenas no tratamento de doenças do fígado. Essas enfermidades são responsáveis por uma em cada 33 mortes no país, totalizando 3% dos óbitos registrados.

O levantamento, que levou três anos para ser concluído, analisa dados coletados do DATASUS entre 1996 e 2022, estratificados por região, gênero e raça, e oferece uma análise crítica dos impactos na saúde pública. As conclusões do estudo foram publicadas na *The Lancet Regional Health Américas*, uma das principais revistas científicas na área médica.

A epidemiologia das doenças hepáticas varia conforme a região, gênero e etnia. Os principais responsáveis por mortes relacionadas a doenças do fígado incluem câncer de fígado, doença hepática alcoólica, fibrose, cirrose e hepatite viral crônica, com causas predominantes distintas em cada região. No Nordeste, por exemplo, a doença hepática alcoólica é a mais comum, enquanto nas regiões Norte e Sul, o câncer de fígado se destaca. O pesquisador André G Oliveira enfatiza que o estudo expõe a desigualdade no acesso ao diagnóstico e tratamento das doenças hepáticas no Brasil, destacando que pacientes da região Norte frequentemente não têm acesso a transplantes e precisam se deslocar para outras regiões em busca de tratamento.

Os dados brasileiros são alarmantes, apresentando uma taxa de mortalidade significativamente maior em comparação com os Estados Unidos e países da Europa, o que indica a necessidade de revisar a alocação de recursos no sistema de saúde. O estudo revela que a maior parte dos gastos está relacionada a transplantes de fígado (68% do total), seguidos por procedimentos clínicos (25%) e cirúrgicos (5,8%), além de custos com hospitalizações, medicamentos e tratamentos.

A professora Maria de Fátima Leite, do Departamento de Fisiologia e Biofísica da UFMG, ressalta a importância dos transplantes para salvar vidas, mas alerta que essa é a última etapa do processo. Ela defende a necessidade de investimento em diagnóstico precoce, melhoria do acesso aos tratamentos e conscientização sobre estilos de vida, que são uma das principais causas das doenças hepáticas.

Fátima Leite acredita que estudos dessa magnitude são fundamentais para orientar políticas públicas de saúde que visem reduzir o impacto crescente das doenças hepáticas. Ela também destaca que mudanças nos hábitos de vida são essenciais para enfrentar essa situação, mencionando que a alimentação inadequada, o consumo excessivo de álcool e infecções virais são fatores que afetam a saúde do fígado dos brasileiros.